Um pequeno
histórico de uma banda de rock ‘n roll
O
que acontece quando você começa amar algo e passa a sonhar a fazer disso algo
maior? No meu caso em 1985 passei a gostar tanto de um estilo musical que cheguei
a sonhar em viver disso.
O Rock ‘n Roll surgiu num estalo no som
que saiu do toca fitas de um amigo de infância através de uma fita cassete. Na
memória ficou “Two Minutes to Midnight” de um Iron Maiden que tornou tudo mais
simples. E no outro lado da fita só pra fazer tudo ficar mais certeiro havia
outro estilo, o progressivo do Yes. Aí impulsivamente comecei minha coleção de
vinis ao avesso, comprando primeiro os discos pra depois comprar o aparelho pra
ouvir. Ia aos vizinhos e combinava com eles o que comprar para que não
comprássemos os mesmos. Antes de compartilhar no facebook compartilhávamos
discos numa rede social que nada tinha de virtual.
Eram
outros tempos!
E o destino fez com que uns três anos
depois eu me mudasse pra outro bairro da cidade onde certo dia quando estava em
frente da casa ouvindo Bob Marley, vi um moleque chegando à casa da frente e
sendo recebido por outro com violão na mão.
Eles estavam aprendendo a tocar...
Uma coisa não acontece à toa. Na hora
me veio à cabeça a possibilidade maluca de também aprender a tocar e de fazer
amizade com eles. Um deles ganhou um equipamento com a palavra mágica “guitar
player” e então colocou na cabeça que pra usar aquela caixa de som tinha que
tocar guitarra. Deus sabe o que faz...
Daí pra eu botar na minha cabeça e acho
que um pouco na deles também que poderíamos formar uma banda de rock foi um
passo.
O moleque que morava em frente da minha
casa era o Alexandre Oshima que agora é um doutor delegado em outras paradas.
Nós o chamávamos de Xandão e o pai dele pra quem é do tempo era conhecido por
João Lambreta. Pensem um cara gente fina que se transformou num grande amigo?!
Era uma época muito bacana: o Netinho
tinha criado o que durou por três ou quatro meses e fez um sucesso danado: a
Alternativa FM, uma rádio pirata que teve uma programação de primeira qualidade
que enfrentou a então toda poderosa Panorama FM... Alguém se lembra da “Sexta
Maldita” com o Daltão e o Julinho Michelin? Eu fui o programador oculto do
programa do Paulinho Gente Fina, que foi um dos muitos que na época acabaram
indo parar em Sorocaba. Tinha as gincanas que envolviam a cidade toda
promovidas pelo Elcio Luís e tinham os campeonatos de futebol onde despontava
um grande time que atendia pelo nome de Viracopos sempre seguido de perto pelo
time da Biquinha. Tipo um Barça e Real Madri da época na cidade...
Pra quem não viveu esse tempo é difícil
entender, mas pro moleque que apareceu no meu vizinho pra aprender a tocar
violão nos idos de mil novecentos e oitenta e oito não deve ser muito difícil.
Jatir que sempre insistiu pra que eu
aprendesse a tocar contrabaixo. Coisa que não fiz por total incompetência...
O Jatir que tem ouvido absoluto. O
mesmo que convocou pra fazer parte da banda que começava seus primeiros ensaios
o Paulinho Marques Júnior, hoje presente aqui e que continua um apaixonado pela
guitarra...
Eu não aprendi a tocar nada e muito
menos a cantar alguma coisa... O Dortinho que participava dos primeiros ensaios
também... Não sei se todos sabem aqui, mas Jatir e Júnior devem se lembrar das
cerca de doze músicas que chegamos a compor juntos. Do meu sonho de
participarmos de um festival de rock. Mas o tempo é implacável e minha
inquietude também. Fui fazer teatro... Poesia... E acabei saindo sem nunca ter
feito parte de verdade e ainda bem que vieram depois o Fábio Dutra, o Binho, o
Paulinho Palito, o Juliano e o Renato pra fazer com que o sonho de infância se
tornasse realidade.
Sim, realidade...
Em nome de um passado de que todos aqui
presentes devemos nos orgulhar sem falar no duro danado que cada um deu pra
pegar as manhas do instrumento. Sei de que na verdade o que move todos nós, Jatir,
Binho, Júnior, Juliano, Fábio e agora o Rolando (que magistralmente tá
substituindo o Paulinho) é o amor que sentem pela música...
E tem uma coisa maior que tudo isso: a
amizade.
Algo que é difícil de explicar. Algo que
cada um sente do seu jeito. Essa amizade vem no prazer que sentimos em estarmos
todos juntos hoje. Por ter a oportunidade de contribuir junto com todo mundo
pra que esse momento fosse possível.
Ter participado do início e estar aqui
é um privilégio. Manter viva a sensação de prazer que sentimos ao estarmos
juntos é o que realmente importa. Tirar um som, ouvir um som, um bom som...
Sons que sempre farão parte de nossa história.
É pra isso que um dia surgiu uma banda
que pode não ter feito muita diferença fora de Itaí, mas que como o nome
insiste em lembrar fez tremer nossa cidade e vai continuar abalando ainda mais
hoje!