Crônica originalmente publicada no #AVDF em 2011
E... Vinte e cinco anos depois...
Há vinte e cinco anos atrás eu era um jovenzinho cheio de sonhos e com
alguns planos. Eu não queria conquistar o mundo, mas sentia que ele me
pertencia. Entusiasmado eu via os meados da década de oitenta passando e
descortinava as coisas que lia em livros semanais. Jogava futebol só por
brincadeira encantado com uma seleção incrível e um Corinthians
inacreditavelmente único. Aprendia aos poucos a não me levar a sério e ouvia
muito rock‘n roll. Saía com os amigos para beber... Embriagado cometia as
inconfidências mais engraçadas. Em 1986 eu era muito doido. Mas doido bem
tranquilo e nem um pouco varrido. Alguns amigos meus se lembram de histórias
que hoje são vagas sombras e clarões que se acendem e se apagam. Em 1986 eu
quis namorar a menina mais bonita da minha cidade e disse não a pretendentes
que poderiam nem ser tão bonitas, mas que eram mais interessantes com certeza.
Eu levei mil foras. Eu dei os meus foras também. Eu fiquei com a Madonna. Eu
sonhei com a Lidia Brondi. Eu me arrependi de não ter ido a algumas festas e
também de ter saído mais cedo de outras. Eu não me arrependi por ter dado show.
Nem fiquei admirado por ter dançado muito na Flipper Dance a ponto de fazerem
roda para me verem...
Há vinte e cinco anos eu fui a Sorocaba assistir a um show do Camisa de
Vênus e segurei a mão de uma garota que estava ao meu lado. Como costume nem
pedi telefone... Como acontece nunca mais nos vimos. Eu tinha um jeito de ver
as coisas e meus colegas de classe outro. Resultado: achavam-me um maluco. Meu
pai ficou sabendo que eu andava pixando e ficou muito bravo até que eu
expliquei que fazíamos aquilo por não termos o que fazer... Ele pensou um pouco
e acabou concordando: Itaí era um porre mesmo! Era para eu só tomar cuidado com
o Arlindão (o chefe da guarda municipal da época). Sim, meu pai era bem
diferente embora fosse de outra geração. Ele sempre me entendeu e por isso eu
me transformei no que sou hoje.
O que sou hoje?
O reflexo do que fui a partir de 1986. O ano em que descobri que a
leitura pode ser tão prazerosa quanto às viagens que comecei a fazer. Acho que
foi nesse ano que fui primeira vez para São Paulo. A sensação de ver tantos
prédios e tanta imensidão. Tanta gente andando depressa e tantos carros. A
sensação de ser tudo novo e tudo ao mesmo tempo naquela hora nunca me abandonou
desde então. Desde então eu vou para São Paulo e procuro aprender a ‘ser de São
Paulo’ buscando sempre a mesma sensação da descoberta que diferencia o
inusitado do constante.
Há vinte e cinco anos atrás eu conheci alguns dos meus melhores amigos e
desconheci alguns dos que considerava grandes camaradas. Eu aprendi a jogar
sinuca, pebolin, tênis de mesa e WAR. Eu joguei Atari na casa do Erick e do
Danilo Galo. Eu gravei mais de cinqüenta fitas cassete com o melhor do heavy
metal. Eu deixei meu cabelo crescer um pouco e meu pai pediu que eu cortasse
porque não pegava bem para quem trabalhava em bar.
Sim, meus caros leitores, há vinte e cinco anos atrás eu nem sonhava que
um dia iria escrever isso aqui. Eu era feliz e sabia... Eu punha um disco de
capa amarelo queimado com os nomes dos integrantes da banda na parte de trás e
com um ‘Dois’ na frente junto com o nome da banda para tocar e cantava junto. E
tinha uma música que eu fiz questão de aprender inteira para cantar o mais
rápido possível... Eu sabia que não era o ‘Eduardo’ pois mais parecia pelos
meus atos com a ‘Monica’... Mas jamais esqueço a sensação de ter decorado cada
verso e quando fui o primeiro da sala a cantá-la pros ouvidos corajosos de
todos... Ninguém naquele momento sabia o que eu estava sentindo. Uma sensação
difícil de explicar...
A sensação de ter conquistado algo que me acompanharia a vida toda. O
amor à música e ao que ela pode possibilitar o tempo todo em nossas vidas!
“E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo
coração. E quem irá dizer que não existe razão?”.
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