segunda-feira, 24 de abril de 2023

Atualíssima

 

Atualíssima


Escrevo daqui desse tempo futuro ao que eu vivi lá atrás quando comecei aqui essas escritas

Escrevo daqui desse momento tão duro diante da leveza que vivi na paz daquela outra vida


Sim, são outros tempos esses. Não há muito o que fazer e nem o que dizer, mas... Insisto...

... E escrevo...

Queria eu ter vivido de outro jeito isso que eu viví.

Mas, repito que não há o que fazer, o arrependimento é talvez o sentimento mais triste que a alma humana acalenta. 

E de repente me vi aqui nesse mesmo blog querendo me justificar do que eu deixei de ser... Não estou a escrever no word. Escrevo direto aqui...

Para tentar com palavras atenuar o quanto cretino fui

Para tentar com rimas inverter um pouco as coisas que fazem doer essa minha alma que já se encontra um tanto cansada.


Eu errei com a pessoa que me amava tanto. Eu, irritantemente tendo a repetir o refrão de uma música que eu cantei tanto quando criança, porque realmente eu não soube amar...

Esqueci que naquela canção tão linda do Oswaldo Montenegro ele ensinou que amar exige mestria.

Não fui nem aluno, muito menos mestre.

Pedir perdão já não resolve. Aceitar que errou e seguir em frente tentando consertar é a única possibilidade. E não é possível prometer nada. Apenas aceitar e torcer para que as coisas fiquem calmas.


Dizendo com franqueza o que escrevo aqui do futuro é mais um desabafo, pois o desatino já foi. Eu não tenho o que dizer. Aceitar e seguir um rumo por um caminho sinuoso que me resta é minha chance para tentar ser melhor.

Aqui do futuro eu lamento.

E peço desculpas para mim mesmo. Aquele do passado que escrevia com alegria e agora escreve com dor. Uma dor que não sei definir. E uma tristeza que eu nunca sabia existir.


Aqui do futuro eu vou indo.

Está tudo bem. Tudo bem, dentro do impossível.


24 de abril de s2023

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Uma música para uma cantora

 

Desvelo

 

E foi olhando nos seus olhos que vi quem eu podia ser

 

Engraçado como a vida ensina nos pequenos passos

que deixei de dar

E foi me perdendo em seus anseios que consegui perceber

que seus abraços apenas indicavam

onde não poderia ir 

 

Eu amo o jeito como você finge que não me vê

Eu clamo pelo tempo que a gente ainda pode ter

 

 

Até quando você vai fugir

 

Tô esperando para reagir

 

E requebrando com cuidado fui saindo

deixando de lado as coisas que você não disse

E foi com tudo planejado que fui desistindo

porque o tempo passou deixando tudo triste

 

Ainda gosto do jeito que você finge não entender

O que nem sempre estou disposta a ceder

 

Até quando?

Até quando vou querer

Ficar esperando

Você dar o braço a torcer

 

E talvez quando tudo isso cansar será tarde

Porque se alguém chegar devagarinho

e falar no meu ouvido as coisas que sempre precisei ouvir

A saudade do que a gente nunca viveu vai virar um sorriso

que minha boca não vai segurar

eu não vou resistir

Vou querer mostrar

pra você perceber

 

Que esse desvelo tolo

Nunca ninguém vai conseguir explicar...

 

 

 

 

 

domingo, 9 de janeiro de 2022

Leituras de 2021

 

Minha lista das leituras de 2021

 

Amigos leitores, resolvi escrever sobre os livros que li durante esse ano de 2021. E inspirado pelo que faz anualmente o meu amigo José Renato Fusco farei isso em ordem de leitura com certa organização. Durante o ano fui tentando ler pelo menos um livro por mês. Quem acompanha os meus “corres” sabe o quanto conseguir tempo para ler não é, para mim tão fácil e o que parece pouco (12, 13 livros) é na verdade, um número razoável.

Vou usar em alguns livros, descrições tomadas do site da Amazon e colocarei as minhas opiniões pessoais em cada um deles. Como o Zé darei uma nota de 0 a 10 também. Sendo 0 para um livro que nem deveria ser impresso, (como minhas escolhas são pautadas pela necessidade de não perder tempo, isso é praticamente impossível). De 01 a 03, livros que dão vergonha, (improvável eu ler livros com essa nota pelo mesmo motivo também). De 04 a 05, livros com história fraquíssima ou com pouca qualidade prática (pode ser que aconteça e quase sempre nesses casos eu abandono a leitura). De 06 a 07, livros bons. De 08 a 09, livros excelentes. 10 para as obras primas ou essenciais.

 

1-   A Arte do Descaso" de Cristina Tardáguila– Em pleno Carnaval, quatro homens invadiram o Museu da Chácara do Céu, no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro, e roubaram cinco obras de arte: um Dalí, um Matisse, um Monet e dois Picassos, cujo valor estimado, na época, ultrapassava 10 milhões de dólares. Naquela tarde de 24 de fevereiro de 2006, os ladrões, de posse de uma granada, renderam os três seguranças, desligaram o sistema de câmeras de vigilância e fizeram nove reféns. Um dos invasores subiu em um móvel histórico para, com uma faca, cortar os fios de náilon que seguravam um dos quadros. Meia hora depois, saíram pela mata para nunca mais serem vistos. Até hoje se trata do maior roubo de arte do Brasil e do oitavo do mundo.

Decidida a desvendar o mistério, a jornalista Cristina Tardáguila chegou a se colocar em situações de risco a fim de encontrar respostas. Em sua jornada, ela viajou para a Europa e mergulhou no mundo obscuro dos crimes de arte. A partir de meticulosa apuração dos eventos, muito maior do que a da própria polícia conseguiu levantar, a autora produziu uma narrativa vibrante, cheia de reviravoltas dignas de um thriller, construída apenas com fatos.

“O Brasil entrou definitivamente no mapa do roubo de obras de arte com o assalto ao Museu da Chácara do Céu.”

Thriller eletrizante, baseado em fatos reais apurados com rigor.

Estreia em livro da premiada jornalista Cristina Tardáguila.

Minha opinião:- Cristina Tardáguila: com paixão pelo que está fazendo ao investigar o crime realizado no início do carnaval carioca em 2006 mostra o quão nosso país é omisso com o seu patrimônio cultural/artístico. A entrega da jornalista é incrível. Nota: 09. Leitura vibrante.

A autora é a idealizadora e diretora da agência de checagem de fake news, Lupa.

 

2-   2- "À Sombra do Cipreste" - do Menalton Braff. Um dos melhores livros que já li no início dos anos 2000– que reli nesse ano aos poucos entre as leituras de outros livros no decorrer dos meses de janeiro e fevereiro. Contos de mestre. É a obra que projetou Menalton Braff no cenário literário brasileiro, no limiar do terceiro milênio.

O realismo das cenas é muito bacana!

Para alguém que quer escrever, (Como eu), esses contos são uma grande aula. Nota 10. Leiam!

 

3-  3- “Falcão, Mulheres e o Tráfico" de MV Bill e Celso Athayde. Sobre a produção dos documentários feitos por eles.

Série de entrevistas feitas por Celso Athayde e MV Bill com mulheres que trabalham para o tráfico de drogas. Este livro foi escrito a partir do sucesso de Falcão - Meninos do Tráfico, no qual os mesmos autores expuseram a vida dos garotos envolvidos com o narcotráfico nos morros de todo Brasil. Falcão - Mulheres e o Tráfico desnuda este universo sombrio de forma franca e objetiva, com uma narrativa arrepiante e contundente.

Eu li pelo menos uns três (ou até mais) livros que mostram a realidade das drogas, do tráfico e das favelas. O mais impactante foi sem dúvida "Cidade de Deus" de Paulo Lins. Esse por ser um registro de bastidores de um documentário serve para referendar as impressões que sempre tive sobre o cotidiano nas favelas do Rio de Janeiro e de outras grandes metrópoles.

Nota:- 07

 

4-   "O Lado Bom dia Vida" de Mathew Quick, que originou um filme que ainda não vi.

Pat Peoples, um ex-professor de história na casa dos 30 anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um "tempo separados".

Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele, sua esposa negando-se a aceitar revê-lo e seus amigos evitando comentar o que aconteceu antes de sua internação, Pat, agora um viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida.

À medida que seu passado aos poucos ressurge em sua memória, Pat começa a entender que "é melhor ser gentil que ter razão" e faz dessa convicção sua meta. Tendo a seu lado o excêntrico (mas competente) psiquiatra Dr. Patel e Tiffany, a irmã viúva de seu melhor amigo, Pat descobrirá que nem todos os finais são felizes, mas que sempre vale a pena tentar mais uma vez.

Um livro comovente sobre um homem que acredita na felicidade, no amor e na esperança.

História de um desmemoriado.

A realidade muitas vezes é pior que a ficção. Esse livro trata da realidade totalmente diferente da classe média estadunidense. Contada em primeira pessoa as vivências de um homem com problemas mentais é bastante tocante. Nota:- 07.

 

5-   5- O Negociador" do John Grishan.

Kyle McAvoy é um jovem advogado cheio de boas intenções que se vê envolvido num jogo de espionagem e chantagem quando um vídeo comprometedor gravado durante uma festa de faculdade em seu apartamento cai em mãos erradas.

É um best seller e a intenção é se divertir mesmo. Essa história pautada em mais diálogos afiados que em ações tem aqueles elementos essenciais em livros feitos pra vender, elementos de suspense e mistério...

Um advogado recém formado envolvido em espionagem industrial contra a vontade. Grisham é um escritor muito hábil em criar climas. Com uma narrativa ágil o leitor sempre quer ir em frente... Todo ano eu procuro ler pelo menos um livro assim. E esse é um ótimo thriller com um final bastante interessante sem muita invencionice. A suspeita de Kyle de que seu "controle" é alguém do governo é muito realista. Gostei. John Grisham é sim, bom... Nota:- 08.

 

6-   6- Quincas Borba" do gênio Machado de Assis. Era o que faltava para eu ler da trilogia que inclui "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro". Com Machado é assim: sempre se quer reavaliar e reler seus clássicos. Uma história que fala do quanto a loucura é tangível. E quando se trata de um clássico nem vou descrever muito, vou dar a nota que esse livro merece: 10.

 

7-  7- “Os Espiões” do Luís Fernando Veríssimo. É a história ficticia sobre um editor de livros que se sente na “obrigação” de “salvar” uma escritora iniciante de uma cidadezinha do interior gaúcho que envia capítulos de um livro contando teoricamente sua história... Mirabolante demais.

Confesso certa decepção. Acho que LFV se dá melhor com crônicas mesmo. Esse e "Clube dos Anjos" (lido ano passado) que são de histórias longas parecem não terem muita graça e/ou sentido. Dizer que não gostei é exagerar, mas não dá para afirmar que é bom. Nota:- 05.

 

8-   8- “Os Famintos e Outras Histórias” de Thomas Mann.

Dezoito contos em que o romancista consagrado de "A montanha mágica" e "Doutor Fausto" se vale de alguns dos temas que frequentam suas narrativas de maior folego para revelar-se competente também na arte das histórias curtas.

Único livro dessa série que não li por inteiro. Li cinco contos. Um exemplo: a primeira história é daquelas inquientantes demais. Um homem símples e feio quer paz, mas se vê apaixonado. Os contos lidos são de uma tristeza ímpar. Aconselho quem se atrever a ler se preparar, porque não é fácil. Nota:- 

9-  9-  "A Senhoria" de Fiódor Dostoievski.

Uma fascinante novela de Dostoiévski, ainda pouco conhecida pelo grande público. De fato, as inovações formais do autor - bem como a trama que liga o sonhador Ordínov à figura misteriosa de Katierina - só foram compreendidas no século XX, quando os críticos reconheceram neste livro uma pequena obra-prima que antecipa os grandes romances do autor.

É um livro até curto, mas tão denso que demorei uma eternidade pra ler. Mostra como as mulheres eram tratadas de forma submissa e machista na sociedade russa. É triste e por ser uma espécie de estreia do grande escritor russo é maduro demais. Nota:- 09.

 

10-               "Escolha de Mestre" organizada por Lawrence Block. Uma coletânea magistral de contos de suspense com dezoito contos onde oito escritores consagrados e contemporâneos escolhidos por Block, mais o próprio escolhem um conto de sua autoria e um de um outro contista de qualquer época. Cada um comenta e explica suas escolhas também. Muito bom!!!

 

Contos que elevam esse tipo de escrita a um novo patamar. Parece que tem outros volumes. Ficarão para o ano que vem... Nota:- 10.

 

11-               O décimo primeiro livro do ano foi o "Manifesto do Nada na Terra do Nunca" do Lobão. Tem coisa que ele fala que concordo muito e tem coisa que discordo com força, mas gosto da escrita do Lobão. Lobão escreve como se estivesse conversando e, invariavelmente, suas histórias são muito boas... "Manifesto do Nada na Terra do Nunca" é o que posso afirmar que é uma leitura importante para entender o outro lado, o lado da direita conservadora e um tanto reacionária...

Nota:- 07

 

12-                "Leituras de Escritor" - coletânea de contos organizada pela Ana Maria Machado. Um livro primoroso daqueles que nos surpreendem pelos contos de autores consagrados e outros nem tanto que ainda não conhecemos de fato.

 

Os contos escolhidos por Ana Maria Machado têm cada um deles um tipo de qualidade e de excepcionalidade diferentes. Fico muito feliz por tê-lo lido. Ele me fez uma pessoa melhor!

Nota:- 10.

 

13-               “O Sol é Para Todos" da Harper Lee com uma história contada pelo ponto de vista de uma pré-adolescente e que tem como pano de fundo o racismo tão em voga na época em que se passa o enredo, (década de 30). A história é contada de uma forma em que passamos a sentir afeição cada vez maior, a medida que a história vai ocorrendo, pelos personagens. Embora a cidade onde se passa a história é fictícia, tudo é baseado no que a autora viveu. Uma curiosidade: o garoto meio amigo, meio namorado de Scout, a protagonista, Dill é o amigo de infância de Harper Lee, ninguém menos que o Jornalista/escritor Truman Capote. Eu ainda não o acabei. É uma obra prima escrito por uma escritora reclusa a la J.D. Sallinger, que originou um filme clássico com Gregory Peck.

Nota:- 10.

 

Menção honrosa:- O Zahir" do Paulo Coelho. Livro que tentei ler no decorrer do ano. O objetivo é diversão, mesmo que ela venha embalada por uma reflexão filosófica rasa... Quero terminar, mas confesso que preciso entrar no clima. "O Zahir" é autobiográfico e isso é o componente que acaba me atrapalhando, acho eu. Um estrangeiro acredito que lê esse livro do Paulo Coelho com outra vibe... No meu caso, fico sempre achando meio "forçado'... Obs.: gosto da escrita do Paulo Coelho. Tenho o costume de ler pelo menos um livro dele por ano (já li “Diário de um Mago”; “O Alquimista”; “O Vencedor Está Só”; “O Aleph”). Mas esse ano me deparei com um muito fraco que é nota 04.

 

Sempre costumo dizer que ler liberta. Muitos não compreendem completamente o que quero afirmar com isso. Explico: ler nos liberta de muita coisa que às vezes imaginamos que sejam de um jeito e não são, nos liberta da intolerância, de todo e qualquer preconceito, discriminação ou sentimento negativo. Sim, lendo aprendemos a sermos pessoas melhores. Porque simplesmente ao ler vemos as histórias do mundo e das vidas das pessoas para termos referências do que devemos pensar, fazer e viver. Enfim, ler é das coisas mais importantes dentre as coisas que realmente valem a pena.

É isso.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Ter apelido ou não ter, eis a questão...


 

Quando eu era pequeno, (na verdade, acho que nunca deixei de sê-lo), fui vítima de meus amigos no que diz respeito aos apelidos. Uns me chamavam de "tampinha", outros de "anão de jardim" e por aí vai. Um dia, cansado dessa palhaçada, cheguei em casa e contei ao meu pai, que, sorrindo, me falou que meus amigos eram criativos e que eu tinha de ser também.

Sim, meu pai era genial.

Engoli o conselho e passei a usar a criatividade pondo apelido em quem me tripudiava, levando na esportiva, entrando na brincadeira, o que era normal naquela época. Orgulho-me de ter cravado "Branca de Neve" a um deles que insistia em me chamar de anão e "caveirinha" a um outro. Hoje em dia ninguém mais lembra de me chamar pelos apelidos acima citados, e, engraçado que anos mais tarde, esses dois colegas que apelidei continuam sendo muitas vezes lembrados pela alcunha por mim inventada.

A forma como reagíamos naquele tempo, final da década de oitenta, a quem zoava com a gente é muito diferente da forma como reagem muitos moleques nesse início de século vinte e um. Lembro de um pai que foi até a direção da escola onde leciono esse ano, para reclamar dos coleguinhas do filho que o tinham apelidado de "pinóquio". Eu tive entre meus melhores amigos, um que tinha esse apelido também. Ele vai bem, obrigado. Nunca foi um mentiroso, apenas roubava muito ar da gente devido a um avantajado nariz e por isso, com o tempo o irônico "narizinho", seu codinome também, foi se transformando até virar o "Guinho" que é como o conhecemos até os dias de hoje.

Mas, enfim, o pai do aluno reclamou e nós professores, fomos aconselhados pela mediadora de conflitos (cargo dos novos tempos, é claro!), a agir de forma a coibir os alunos a fazerem tal brincadeira. Acho isso muito chato.

O politicamente correto é chato!

A política de certa forma é a junção de pensamentos e ações que existem em função de administrar o que é público. Política é uma arte e ao mesmo tempo uma ciência e é fundamental para que possamos conviver da melhor maneira possível dentro de uma sociedade. Sendo assim, uma pessoa politizada, precisa conviver com as diferenças e as idiossíncrasias tão comuns numa sociedade plural. O que é correção para a vida em sociedade, senão um conjunto de fatores que estão dentro de uma apropriada e combinada normalidade. E nessa normalidade, crianças, adolescentes e jovens possuem um senso de humor que as fazem serem muito mais livres que os adultos e idosos.

Explico: um adolescente enxerga no amigo aquilo que soa engraçado dentro de seu convívio. Uma característica própria diferencia o amigo e faz dele um membro do grupo facilmente identificável. É absolutamente normal para um moleque perceber que o amigo muito alto e magro se destaca e pode ser caracterizado como o "vareta" do grupo. Assim, como o "vareta" pode entender que, realmente, ele é bastante alto em relação aos seus amigos, e isso, não deve ser encarado como um xingamento, uma ofensa e sim, como a forma encontrada por um de seus amigos, mais baixos, para o diferenciar. Quanto a nós, adultos, claro que não devemos pôr apelido a torto e direito em nossos colegas de trabalho, porém, se isso passar a ser também, algo que sirva para nos aproximar, não se pode considerar isso tão ruim.

Agir de forma politicamente correta com certeza seria agir de forma ética e honesta com todos os que convivem com a gente.

Eu não vou morrer se de repente vir à tona um de meus apelidos dos tempos em que eu jogava bola. Se me chamarem de "grilo", não devo encarar como uma ofensa e sim, "olha só, alguém se lembrou de mim...". É claro que se o "grilo" for uma forma de me prejudicar enquanto cidadão e se faltarem com a ética ao me classificarem assim, aí tudo muda de figura.

O bullying virou uma palavra da moda e, também, um ponto de vista. Realmente, quando jovens utilizam de ofensas para prejudicar seus colegas, isso é desabonador e ofensivo. O que me incomoda é a sociedade generalizar toda e qualquer forma espontânea de ação e reação como sendo bullying. Prefiro lembrar do conselho do meu pai. Prefiro encarar as coisas como elas são.

Uma sociedade é cada vez mais avançada quando consegue lidar com seus problemas de uma forma real e mais natural, sem necessidade de se fazer, o tempo todo, rearranjo e expiação. As leis e regras existem para serem respeitadas, mas nem toda atitude precisa ser alvo de investigação moral.

Concluo contando que o menino que recorreu ao pai e esse, foi até a escola recorrer à direção, já não é chamado por aquele apelido. Ninguém mais o chama de Pinóquio como ele deseja. Hoje quando ele passa murmuram jocosamente o chamam de "filhinho do papai". É, infelizmente, isso serve um pouco para refletirmos em como são as coisas...

 

segunda-feira, 20 de abril de 2020



Apontamentos sobre leituras - 1

O conto "O Homem que voltou ao Frio" de Cíntia Moscovich, presente na antologia "13 dos Melhores Contos de Amor da Literatura Brasileira" organizada por Rosa Amanda Strausz é surpreendente.

Primeiro porque no meio de tantos autores tarimbados e consagrados (Caio Fernando Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Machado de Assis, para citar alguns) ela é uma autora relativamente principiante e novata.

Segundo porque o conto é muito bom, um dos melhores do livro, daqueles que prendem a atenção, forçam uma reflexão e caracterizam muito bem um tipo de sentimento, no caso, o amor platônico.

O amor platônico do finlandês pela brasileira que ele conhece em uma viagem à Israel é descrito e demonstrado com nuances diretos e afetuosos que só os grandes textos propiciam. O tempo por um instante parece parar para que possamos identificar melhor o que estamos sentindo a respeito...

O final que é até esperado enternece e trás aquele recado que preenche as nossas vidas nos alertando o quanto ela é frágil e passageira.

É importante ressaltar que como se trata de protagonista de família judaica as analogias que se referem à perseguição nazista (campos de concentração, gás letal, etc.) são um achado!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017




Quis ser feliz,

mas a rima era tão pobre que preferi a cicatriz
de um sofrimento qualquer...
Só sofre,
Quem não descobre o caminho a tempo...
Quis ser nobre,

porém, ninguém percebeu e acabei escolhendo ser simples...

Feito a rima final de um poema que nunca termina...

segunda-feira, 29 de junho de 2015


Um Amor Rock’ n Roll – parte 4

Ir a um show de rock é uma epifania.

O espetáculo de uma banda ou artista ao vivo possibilita ao expectador diversas emoções que considero um tanto parecidas com as de quem vai a uma peça de teatro. Permitem reflexão e diversão, comoção e ilusão e do mesmo jeito que um jogo de futebol, extravasarmos nossas emoções reprimidas no dia a dia... Grandes shows são também uma forma de obtermos prazeres sensoriais e sensações diversas que se tornam, com o tempo, marcantes e inesquecíveis.

Um filme em uma sala de cinema lotada é também representa uma experiência muito diversa da de se ver um filme na tevê da sala de casa. Imagina você estar ao meio de milhares de pessoas vendo sua banda tocando ao vivo as músicas que você mais gosta? É sem dúvida alguma uma experiência única!

A ida a um grande show envolve diferentes etapas que vão desde a aquisição do ingresso que não é fácil até a fila de entrada que exige certa dose de paciência. Em cada etapa pode se sentir uma expectativa boa, que remete à infância e onde descobre-se às vezes que a grande diferença entre a vida adulta e a infância não é outra coisa senão, o preço do brinquedo... Bem mais caro...

Ao menos vinte dos dias mais incríveis de minha vida até aqui, foram dias de rock. Destaco aqui cinco desses dias que não sairão nunca de minha memória afetiva:

25/03/2007 – Roger Waters, Estádio do Morumbi – São Paulo. Turnê em que Roger Waters e sua banda tocaram inteiro o “The Dark Side of The Moon”, além de outros clássicos do Pink Floyd e da fase solo do músico. Com incrível estrutura e caixas de som espalhadas pelas arquibancadas do estádio dando um efeito especialíssimo à apresentação dando a impressão de que estávamos muito próximos do palco mesmo estando distantes. O telão também era um espetáculo a parte, pois apresentava clipes para cada música como o da música “Wish You Were Here” com apenas a mão aparecendo para ligar um rádio e acender o cigarro, encher um copo com bebida... Falando em bebida, a grande pisada na bola dos organizadores foram os poucos locais de venda de cerveja que custavam absurdos quatro reais a latinha. O porco inflável sobrevoando a plateia, o prisma iluminando o público ao final da execução do LP mais vendido na história na segunda parte do show, o coro das backing vocals e os músicos fora de série contribuíram para que esse show se tornasse o mais incrível que já vi. Um showzaço!

15/03/2009 – Iron Maiden, Autódromo de Interlagos (turnê “Somewhere Back In Time”) – São Paulo. Show dos clássicos da banda inglesa que com a música “Two Minutes To Midnight”, que ouvi numa fita cassete em 1985, fez com que eu passasse a gostar de rock. Até então, foi nesse show que o Iron teve seu maior público, cerca de sessenta mil pessoas que na lama e mesmo com o caos da saída e principalmente, chegada, puderam saborear seus sucessos. Saímos de Itaí com uma van de amigos de Itaí, Avaré e Paranapanema. Pelas companhias e pelo pessoal do norte do país, que conhecemos na fila foi um dia especial. Fila que tivemos que furar para conseguirmos chegar a tempo de ver o início do show. Um ano antes eu havia ido a um show do Iron no antigo Parque Antártica, estádio do Palmeiras numa outra turnê. Só que esse show foi mais impressionante. Havia muito mais gente... Uma curiosidade: o meu pessoal se dispersou e ao final do show me perdi de todos e contei com a sorte ao “achar” o Franklin, amigo de Itaí, que estava lá na casa de um amigo. Ele me ajudou a encontrar a van...

02/04/2011 – Ozzy Osbourne, Arena Anhembi – São Paulo. Antes desse show caiu muita chuva que em nada atrapalhou a surpresa que tive desde a abertura com a banda Sepultura demolindo e quebrando com certo preconceito que eu tinha. Ver o Ozzy era um sonho de menino. O primeiro vinil que comprei foi o “The Ultimate Sin” e o Black Sabbath foi trilha sonora da minha adolescência. Na viagem, muita troca de ideias e risadas. 2011 foi um ano especial, além de ver o Ozzy e ir ao Rock In Rio, fui também ao show do U2, no Morumbi na turnê “360 º”. A chuva voltou durante “Suicide Solution” e eu resolvi até me sentar para curti-la. A banda do Ozzy fez malabarismos para que ele pudesse descansar. Tocando riffs e solos, eu prestei atenção nas saidinhas dele em direção ao fundo. O legal é que ele voltava sempre revigorado... Do jeito dele é claro. Tirando a água que alagou o local, tudo correu muito bem. Dessa vez, não me perdi...

25/09/2011 – Dia do Metal no Rock In Rio – Cidade do Rock, Rio de Janeiro. Apesar da exaustão ao final do dia, quando acabei dormindo no gramado, durante parte do show do Metallica, que fechou o dia, foi intenso demais, pois pude conhecer gente de várias partes do Brasil e presenciei um clima de camaradagem muito raro. Ao entrar na cidade do rock fui direto para a Street Rock e num coreto vi a apresentação de dois velhinhos blueseiros, Seeley e Baldori, que já valeram o dia!

Uma curiosidade: minhas mãos e cabeça, filmando a apresentação aparecem nessa gravação:

Vi parte dos shows do Matanza e do Korzus no segundo palco, parte do show da banda Gloria no palco Mundo antes de na sequencia ver extasiado Motorhead e Slip Knot. Tenho que confessar duas coisas: um festival exige um condicionamento físico de atleta para que o dia seja realmente aproveitado de verdade e o Slip Knot ao vivo é uma das coisas mais impactantes que já vi na vida! Foi um dia perfeito, pois tive a companhia de amigos, fiz novos amigos e vi grandes shows. Se me perguntam se já fui ao Rio, respondo: ainda não. Fui à Cidade do Rock uma vez...

11 e 12/12/1992 – Guns N’ Roses, Estacionamento do Anhembi (“Use Your Ilusion Tour”) – São Paulo. Com parte da formação clássica (Axl, Slash, Clarke, Sorum e McKagan). Rose estava no auge, tanto de seu talento quanto de suas excentricidades e paranoias, diante de todos os percalços com o cancelamento do show por conta das fortes chuvas no dia 11 e o público que havia comprado ingresso podendo ir no dia seguinte e tudo o mais...

Willian e Marina mal se viram durante todo o show e tanto antes no show de abertura de uma banda meio desconhecida, a Rosa Tatooada, e em todo o tempo de espera já na área do público, ambos ficaram preocupados em curtirem ao máximo o evento, aquele momento inesquecível. Tem uma teoria em que se um casal vai a um show de rock junto, fortalece a relação e um casal se conhecer e ficar junto num show é quase impossível.
Num show de rock é cada um na sua!

Choveu muito durante o show. Mana foi parar bem lá na frente perto da grade entre os seguranças e o palco e pôde presenciar quando jogaram uma latinha de bebida no Axl que ameaçou deixar o palco. Ainda bem que diferente do show anterior, ele estava bastante calmo e fez para sorte nossa um dos melhores shows da carreira dele e dos demais integrantes da banda. Já o Will se manteve numa parte meio que no centro de onde podia ver bem o show e ao mesmo tempo curtir toda a movimentação sem os solavancos e o empurra-empurra da multidão.
Os dois voltaram a se ver ao final quando voltaram extasiados para o ônibus. Exaustos, cada um sentou no seu lugar e dormiu por pelo menos duas horas...

Uma reportagem: