quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


A Mãe lá de casa

Estive fora uns tempos.

Casei-me, tive filhos e após a separação fui ver como que era a vida de homem recém-separado curtindo a vida solitário uns tempos. Voltei após quase doze anos pra casa de minha mãe para fazer companhia mesmo e não deixá-la tão só. Já não sei quem ganha mais com essa decisão.

Tenho quase certeza que o maior beneficiado tem sido eu.

Quem me segue no twitter e perde um pouco do seu tempo lendo o que me disponho a postar nos cento e quarenta caracteres por vez já deve ter percebido que sou um tanto deslumbrado com a forma como minha mãe quase octogenária (fará 80 anos daqui a dois meses) enxerga a vida. São dela alguns comentários bem humorados e irônicos feitos com a simplicidade que só se adquire com o tempo.

Tem sido outro prazer que eu não conhecia tão bem assistir a jogos com essa corintiana fanática conhecedora das mais difíceis regras do jogo bretão. Impedimento por exemplo ela tira de letra muitas vezes se antecipando até mesmo aos comentaristas. Dia desses num lance marcado contra o timão antes mesmo de o Arnaldo dar seu veredito, vendo no replay, dona Maria disse com sua habitual ranzinzice “só tá o Jorge Henrique e o goleiro, então só pode ser a merda do impedimento!”.

São maravilhosas as suas frases feitas e desfeitas: “pau torto se você tenta endireitar, quebra...”; “se você adoça muito a pessoa ela acaba salgando sua vida...”; “o céu escuro já não mostra que vai chover, serve é pra enganar a moça da tevê...”. Sempre séria e com um meio-sorriso a Maria Raposo tem uma frase definitiva pra qualquer coisa, frases que muitas vezes a gente demora pra assimilar.

Ela nunca foi à escola e ultimamente reparamos nela uma preocupação com o falar. Ela se esmera em falar corretamente, o que como minha filha afirma a torna uma fofa. Mas como falar certas palavras já que se tem uma língua presa¿ “Pênalti”, por exemplo, vira aquele termo que designa uma parte íntima masculina... Ela tenta falar o nome da loja de materiais para construção onde tem conta e sai um “escorpel” que soa muito mais difícil do que o nome original. Motivos para risadas e no caso do meu filho para gargalhadas. 

Fazê-la falar certas palavras são para meus dois filhos motivo de festa. Coisas que ela poderia considerar chacota e poderia até ser, mas não, ela sabe que essa característica a torna uma vó diferente, divertida, única. E vó é mãe duas vezes. Sinto que seus netos e bisnetos a renovam e fazem com que ela tenha mais disposição para continuar encarando a vida com alto astral e continuar fazendo com prazer um café novo e fresquinho a cada visita, a cada “passada” de um dos filhos, parentes e comadres.

Minha mãe é hoje uma referência para que eu perceba em mim mesmo as falhas que eu não quero para o meu futuro.

Espelho-me nela para continuar a ter prazer nas pequenas coisas como quando dia desses, ela me disse da felicidade que tem ao simplesmente olhar a casa cheia de gente e poder pensar que simplesmente que se todos aqueles estão ali é por causa dela.
Sim, esse pensamento é o que pode nos fazer bem sempre: vou fazer o que for possível para que no futuro eu possa me orgulhar da minha prole.

A mãe lá de casa disse que não quer essa “frescura” de presente de dia das mães. Ela diz que esse negócio foi inventado para que todo mundo “limpe a consciência”. Eu não entendi muito bem o que ela quis dizer. Mas nem vou perguntar nada... Domingo a gente vai fazer um almoço especial lá em casa e depois compro um presente como quem não quer nada...

Marco Antônio
Filho da dona Maria do Zé Florentino
e-mail: marcoemobras@yahoo.com.br

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