Domingo
Não
há nada que faça tão mal a Juvenildo quanto fim de domingo. Domingo à tarde pra
ele sempre será angustiante. É hora de lembrar que no outro dia ele terá que
ouvir cedo o despertador e levantar para um trabalho que ele não escolheu...
Que ele não queria. Sem duvida alguma quando ele ouve a abertura do Fantástico vem uma vontade assim de
chorar e ele não chora, porque não tem um ombro onde encostar...
E vai ele da padaria onde costuma tomar
um café todo domingo sempre no mesmo horário na direção do seu quartinho de
pensão numa solidão de dar pena. No caminho encontra sempre as mesmas pessoas.
Joãozinho que tem um carrinho de cachorro quente com quem conversa sobre
futebol. Ele que resolveu torcer pro Corinthians no dia que pôs o pé na cidade,
ele que se transformou num grande torcedor para no fundo ter o que conversar
com Joãozinho e outros conhecidos...
Ele encontra também Alice que cresceu e
de menininha com o tempo se transformou numa moça muito bonita e inteligente
que faz faculdade e já não o cumprimenta. Isso o deixa chateado e de vez em quando
ele arrisca dar uma olhadinha pro lado dela pra ver se ela o vê, mas hoje ele
para ela é apenas um homem que mora na mesma rua...
E quando ele está chegando à pensão
finalmente encontra dona Marta que o recebe sempre com o mesmo sorriso –
acalanto que o reconforta um pouco – mas que não deixa de ter um toque de
tristeza. Dona Marta é a dona da pensão e ele não sabe se de repente esse
carinho todo não seja por causa dos doze anos de mensalidades pagas
religiosamente no dia sete de cada mês...
Mas conversar com ela é um dos poucos
momentos legais de seu domingo. Falar que “o tempo está bom, que vai chover,
que o timão embalou, que as frutas estão mais caras e que as crianças (agora
todas adultas) mais uma vez não apareceram para visitá-la” faz bem a um
Juvenildo que já não lembra os rostos de seus irmãos espalhados pelo Brasil e
que tem em dona Marta uma espécie de mãe. Ela que lembra de seu aniversário e
que no ano retrasado lhe surpreendeu com um bolo...
Depois da conversinha costumeira e
muito rápida pro gosto de Juvenildo vem a parte mais difícil. Ele entra em seu
quarto e sempre por incrível precisão é no horário em que começa seu programa
preferido. Ele fala boa noite para Patrícia e Zeca, fala sozinho com os dois...
Se pega rindo de algumas partes engraçadas e chora de emoção com outras partes
nem tão emocionantes assim...
E quando o Fantástico termina, calmamente Juvenildo dá uma arrumadinha em suas
coisas, em sua mochila e em seu dormitório. Pega a garrafinha, enche de água e
toma o calmante receitado por um médico aconselhado pela dona Marta. Aí então
ele vai dormir sonhando com os filhos que não teve, com a esposa que queria ter
e com um Juvenildo que ele conseguiu ser...
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