Uma noite comum num dia qualquer
E vem de novo meio cambaleante. Será que só me quer quando
está bêbado? Fiz que nem ouvi. Então
ouço seu andar encumpridado.
Quer
ficar comigo?
Assim
na lata fica difícil. Já não tô muito querendo e ele vem sem romantismo, tá
pensando o que?
E
aí... Não vai responder?
Ah
meu saquinho. Tá bom, já que você tá procurando, que seja:
Você
vive bêbado e quer ficar assim sem nem mesmo se curar antes. Dá um tempo ô... O
que você tá pensando? Eu não sou qualquer uma.
Falei
olhando para um cachorro na esquina. Saiu tudo de uma vez, o cachorro acordou,
me deu uma boa olhada e fechou os olhos novamente.
Aí
o Du fez uma coisa que eu não esperava: deu pinote, saiu de banda.
E
fiquei assim sem eira nem beira.
Pensei
em voltar atrás. Mas e o medo dele me dispensar de vez. Abaixei a cabeça e
quase pisei na merda do cachorro, desviei sem olhar pra trás – morrendo de
vontade de olhar – cheguei em minha casa... E não consegui dormir.
Fiquei
pensando em seus beijos com gosto de cerveja. Em seus abraços suados. Em seu
perfume barato.
E
o que ensina a vida em noite mal dormida!
*
* *
Olha
lá, rapaz a Luana indo embora sozinha de novo. Ah, não vou resistir...
Mas
cara, a gente acabou de levar aquelas duas embora e...
Larga
mão! Ela já ficou comigo duas vezes desse mesmo jeito.
Então
corra, cara. Eu vou embora...
Falou.
O
que é que tá havendo. Ela fez que não me viu.
Aumento
o passo então...
Quer
ficar cumigo?
O
que está acontecendo? Ela agora não fala nada. Apenas está com cara de brava.
Será que ela sabe da Lurdinha.
E
aí, não vai responder?
Aí
ela fez uma coisa que eu não esperava: deu uma esculhambada!
...
O que você tá pensando, eu não sou qualquer uma.
O
que me restou foi dar a volta com a consciência pesada de quem pisou na bola.
Quase tropecei em um cão
que dormia na calçada.
A
Luana merece mais respeito.
Essa
de tratar ela como resto não tá com nada.
Bom,
tomei uma decisão: a partir de amanhã vou fingir que nem a conheço.
Cheguei
a minha casa... Dormi sonhando com a Lurdinha...
*
* *
Estávamos
nós dois, eu e o Eduardo, na madrugada voltando da noite, quando vi a Luana
virando a esquina. Com aquele reboladinho lindo. Meu Deus, se eu tivesse
coragem, juro que iria atrás dela!
Ah,
não! O Duzão também a viu.
Olha
lá rapaz a Luana indo embora sozinha de novo. Ah, não vou resistir...
Tentei
dissuadi-lo:
Mas,
cara, a gente acabou de levar aquelas duas embora e...
Larga
mão! Ela já ficou cumigo duas vezes desse mesmo jeito.
Decidi
apoiá-lo só para ver se ele desistia, pois ele sempre gostou de ser do contra:
Então
corra cara, eu vou embora.
Falou.
E
ele foi. Ele não deixou de ir...
Foi...
E
eu fiquei perdido.
Sempre
gostei da Luana. Nunca tive coragem de chegar. E o Duzão com o seu jeitão
grosseiro fica com ela a hora que quer.
Fui
embora. Em casa tomei um sal de frutas e fui dormir. Liguei o rádio. Fiquei
pensando na Luana e sem querer imaginei o Duzão a beijando.
O
pior é que sei que a coisa não vai ficar só nos beijos. O pior é que ele vai
passar a mão nela... Está com umas a mais na cabeça mesmo... E vai que é isso o
que ela quer, ficando com ele a essas horas.
Mas
não quero imaginá-la como qualquer uma.
É
ele que é um babaca. Amanhã, nem vai olhar pra ela. E isso é o que é pior.
Tentei pensar em outra coisa... Na Jussara...
Mas
não consegui!
De
repente me veio que poderia ter chegado antes do Duzão.
Poderia
ter sido mais corajoso.
Assim
quem sabe eu estaria no lugar dele. Só que tenho que esquecer... Eu vou
esquecer... Decidi: a partir de amanhã nem olharei mais para ela...
Na
janela, os primeiros raios de sol anunciaram um novo dia. Um novo domingo. Foi
só mais uma noite perdida em meio a mais uma vida qualquer...
Se puder ouça agora (bem baixinho) “Love Will Tear Us Apart”...
Nenhum comentário:
Postar um comentário